Entrevista Brian Molko

Entrevista originalmente publicada no Terra em 2007. Por conta de mudanças no layout do Terra, matérias antigas acabaram ficando com a formatação alterada. Você pode acessar o link original aqui)

Líder do Placebo disse que já passou da fase "travesti"


Nada de vestidos e maquiagem pesada. O líder do trio inglês Placebo, Brian Molko, 34 anos, recebeu o Terra no terraçoo do Hotel Unique, em São Paulo, descontraído e com um copo de uísque ao alcance da mão. A banda se apresenta na noite desta terça-feira no Credicard Hall em sua segunda visita ao País.

Ícone da androginia do rock nos anos 90, Brian diz que já teve "uma fase mais travesti", e que agora o grupo está mais confiante na música e não liga tanto para o visual.

Brian diz que tocar no Brasil é como estar em férias, e que quer ser lembrado como "um cara que compõe canções boas pra caramba". Confira abaixo a entrevista exclusiva concedida pelo cantor.

Esta é a segunda vez que vocês tocam no Brasil. Que lembranças vocês têm da primeira turnê, em 2005, e o que esperam do show de logo mais, em São Paulo?
Não gostamos de prever o futuro. Quanto ao show de hoje à noite, vamos esperar para ver. Sobre a primeira turnê, foi sensacional. Era como se estivéssemos em férias, conhecendo lugares lindos e fazendo shows. Percorremos o Brasil todo, oito cidades de sul a norte. Prefiro tocar no Brasil a tocar na Alemanha, por exemplo. Nada contra os alemães, é claro, mas é outra vibração. Em outros lugares não há samba.

O Brasil tem recebido cada vez mais artistas internacionais nos últimos anos. Como o País é visto pelas bandas no exterior? Existe interesse por parte dos artistas de tocar no Brasil?
Por que alguém não ia querer tocar no Brasil? Todo mundo que ainda não veio pra cá tem aquela idéia da "terra mágica". Tem um pouco disso, mas aqui há cidades como São Paulo, que é uma metrópole como qualquer outra do mundo. Ainda há uma diferença grande entre o que o público quer ver ao vivo e o que os produtores conseguem trazer, mas isso em breve estará resolvido. Tendo convite, os artistas vem para o Brasil.

O que há de diferente do Placebo no começo da carreira e o de agora, 12 anos depois? Há diferenças, claro. Seria uma vergonha se estivéssemos do mesmo jeito. Hoje em dia somos muito melhores e mais confiantes no que fazemos. Não precisamos mais tocar de vestido e maquiagem para nos afirmar. Você vê, por exemplo, Pete, o baixista do Fall Out Boy. Ele se parece com Stefan em 1996! Então por que a gente faria isso hoje em dia?

Você ainda se identifica com as letras que escreveu no primeiro disco da banda, em 1996?
Sim! A música I Know, desse disco, por exemplo, a gente nunca tinha tocado ao vivo. Antes ela era só um monte de rimas, e hoje em dia faz um sentido gigantesco para mim. Eu não tenho um "método Hollywood" para compor. Escrevo sobre pessoas e quero que cada um se identifique com as minhas canções de acordo com suas experiências pessoais.

Falando nisso, as pessoas ainda fazem muita associação do Placebo com androginia. O que você acha dessa imagem?
Eu já tive uma fase muito mais travesti. Androginia para mim está muito mais ligada à confusão de gêneros, não sexual. Eu tocar de terno e maquiagem é muito mais andrógino do que ser um homem de vestido. E no fim das contas, eu quero mesmo é ser lembrado pelas músicas boas pra caramba que eu fiz, e não pela história do vestido.

A banda Gram vai abrir o show de vocês em São Paulo. Vocês ouviram o som do grupo? Tiveram outras opções?
Sim, ouvimos e gostamos, por isso optamos por eles. Quanto às outras bandas, eu não lembro quais eram, mas mesmo que lembrasse não te falaria (risos).

As drogas são um tema recorrente em suas letras. Qual a sua relação com elas e como você vê a reação das pessoas sobre esse assunto?
Na verdade isso não é meu problema. Eu escrevo sobre como é viver hoje em dia. As drogas fazem parte da vida das pessoas e estão muito ligadas ao amor: os dois podem te deixar bem, como podem destruir a sua vida. É como perguntar a Quentin Tarantino por que os filmes dele têm violência. Porque a violência está por toda parte, assim como as drogas hoje em dia.

Artistas como Bono, do U2, e Eddie Vedder, do Pearl Jam, são idolatrados por conta de suas atuações sociais. Por você falar de drogas e temas mais pesados, não teme ser visto como uma "ovelha negra" do rock atual?
As músicas que eu escrevo não são sobre certo ou errado. As pessoas não são perfeitas. Escrevo sobre esperança e desilusão e escrevo sobre o meu ponto de vista. Não estou tentando salvar o mundo. Isso seria muito simples.